João-de-Barro
Classificação Científica
Filo:
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F. rufus
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O joão-de-barro ou forneiro (Furnarius
rufus) é uma ave Passeriforme da
família Furnariidae. É
conhecido por seu característico ninho de
barro em forma de forno (característica
compartilhada com muitas espécies dessa família). É a ave símbolo da Argentina, onde é chamado de hornero ("Ave
de la Patria" - desde 1928).
Descrição
Possui o dorso
inteiramente marrom avermelhado (por isso o epiteto específicorufus).
Apresenta uma suave sobrancelha, formada por penas mais claras, em leve
contraste com o restante da plumagem da cabeça. Rêmiges primárias (penas de
voo, nas asas) anegradas, visíveis em vôo, com as asas abertas. Ventralmente é
de coloração mais clara. Tem cerca de 20 cm de comprimento e não apresenta dimorfismo sexual evidente, mas sua
plumagem pode mostrar variações regionais; no sul da Argentina tende a ter um
tom mais pálido e acinzentado; no Piauí e Bahia as cores são mais fortes, mais
avermelhado no dorso e mais escuro e ocre no ventre. Também seu tamanho pode
variar, sendo em geral as populações do sul ligeiramente maiores que as do
norte.
Taxonomia, ocorrência e denominação
popular
O nome científico do joão-de-barro é Furnarius
rufus, tendo sido descrito pela primeira vez por Johann Friedrich
Gmelin em 1788. Pertence à ordem dosPasseriformes, família Furnariidae. O gênero Furnarius foi
descrito por Louis Jean
Pierre Vieillot em 1816. Da espécie partem cinco subespécies:
É uma espécie
nativa da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, ocupando uma vasta região, que vai do
sul dos estados brasileiros de Pernambuco, Goiás eMato Grosso, cobre toda a parte leste da
Bolívia, seguindo para o sul pelas encostas da Cordilheira dos Andes até
a altura da Pensínsula
Valdez, na Argentina, espalhando-se destes limites até o litoral
atlântico. Sua população não foi quantificada, mas parece estar aumentando e
foi descrita como uma ave comum. Por tais motivos a Lista Vermelha da
IUCN a classifica como espécie em condição pouco
preocupante. A espécie tem invadido cada vez mais as cidades e, em
virtude do desmatamento, que
cria campos ou arborização rala, também sua zona de ocorrência está aumentado.
É conhecido em
português por vários apelidos, como joão de barro, amassa-barro, barreiro,
forneiro, maria-de-barro, oleiro, pedreiro, e em espanhol pode ser chamado de hornero
común, alonsito e hornero.
Ecologia e biologia
Vive em áreas de
vegetação esparsa ou em campos abertos. Passa grande parte do tempo no solo,
destacando-se por seu andar pausado característico, que alterna com pequenas
corridas. Alimenta-se de insetos e larvas, aranhas e outros artrópodes.
Pode ocasionalmente ingerir sementes. Raramente forrageia nas árvores. São
monógamos e os casais permanecem unidos por longo tempo. Defendem seu
território ao longo de todo o ano, tanto a fêmea como o macho, mas podem
pernoitar fora de sua área. Têm o hábito de cantar juntos à entrada do
ninho, agitando suas asas.
Seu ninho
tipicamente em forma de forno o tornou popular. Em estado natural prefere os
galhos baixos de árvores e troncos secos para nidificar, escolhendo pontos que
possuam boa visibilidade do entorno, mas se não encontra um local adequado,
pode nidificar até no chão ou sobre alguma rocha saliente. Em zona urbana,
onde está perfeitamente adaptado, prefere postes elétricos, podendo construir
também sobre edificações humanas. O hábito que tem de usar postes de
eletricidade para nidificação tem causado problemas de manutenção para as
empresas de energia elétrica. Não há relação direta entre a construção de
ninhos e o período reprodutivo. A ave passa quase todo o ano envolvida em
construções, às vezes mais de uma ao mesmo tempo, o que pode ser explicado pelo
grande índice de perdas de ninhos por invasões de outros animais, acidentes com
destruição e intervenção humana, e pela disponibilidade de barro fresco, que
depende do regime de chuvas.
O casal se reveza
na construção do ninho, uma estrutura em formato de forno, com 17 a 30 cm de
diâmetro e uma altura de cerca de 20 cm, que pode pesar até 12 kg, embora a
média seja de 5 kg. Divide-se em uma base ou plataforma, um vestíbulo estreito
e uma câmara incubadora mais ampla, arredondada. A entrada tem em geral uma
forma elíptica ou em crescente. Seu material é o barro, a palha e o esterco
fresco. Todos os anos constroem um ninho novo, mas às vezes podem reformar um
antigo. Também podem construir mais de um ao mesmo tempo. A construção leva de
2 a 18 dias para terminar, conforme a disponibilidade de material, mas se este
falta podem interromper o trabalho e iniciar outro ninho quando as chuvas
formam novo barro. Depois de pronto o casal se ocupa em forrar a câmara
incubadora - o que nem sempre ocorre - com fibras vegetais, pelos, cerdas e
penas.
Ali a fêmea coloca
de 3 a 4 ovos brancos, de casca frágil, que pesam de 4 a 7 g e medem de 27 a 29
mm de comprimento por cerca de 21 mm de diâmetro. A incubação, realizada pelo
casal, só inicia consistentemente após a postura do terceiro ovo, levando de 14
a 18 dias. À noite, porém, parece que a incubação fica a cargo da fêmea. A taxa
de natalidade é muito variável conforme a região. Os filhotes pouco depois de
nascerem já apresentam comportamento defensivo, silvando como cobras e atacando
intrusos com os bicos abertos, mas sem qualquer pontaria efetiva. Ambos os pais
os alimentam. No início os adultos permanecem junto dos filhotes para
aquecê-los, mas após oito dias de vida os pais vão passando mais tempo fora do
ninho. Com 14 dias as crias já treinam seu canto, e aos 20 dias deixam o ninho,
mas por poucos dias mais os pais ainda os alimentam. Se uma segunda postura se
realiza na mesma temporada, os juvenis podem ajudar os pais a construir um novo
ninho.
Entre seus inimigos
estão o anu-branco, o guira-guira,
que preda ovos e filhotes, o gavião-carijó,
a águia-chilena,
que destroi o ninho e preda filhotes, e o gambá, que
preda ovos, filhotes e adultos e depois ocupa o ninho. Pardais podem expulsar o
joão-de-barro para usar seu ninho. O Molothrus bonariensis pode
parasitar os ninhos colocando ali seu ovo, para que o casal de joão-de-barros o
incube e crie o filhote alheio. Ninhos vazios são ocupados por uma grande
variedade de aves, alguns insetos como abelhas e percevejos, além de cobras e
pererecas. A andorinha Phaeoprogne
tapera utiliza exclusivamente ninhos vazios de
joão-de-barro para sua própria nidificação.
O joão-de-barro é
um pássaro muito popular, tanto que foi escolhido como a ave nacional da
Argentina. Faz parte do folclore de várias regiões, sendo
personagem de lendas. Uma delas diz que o macho pode encerrar uma fêmea infiel
no ninho até que ela morra, o que nunca foi comprovado; Outra diz que ele
constroi seu ninho com a abertura na direção oposta do vento e da chuva, mas as
pesquisas realizadas apresentam resultados contraditórios. Também é dito
que ele é um pássaro religioso, pois suspende a construção do ninho aos
domingos e dias santos. Isso tampouco tem comprovação científica. Em algumas
regiões interioranas seus ninhos vazios se tornam objetos de decoração
doméstica.
Seu canto, junto
com o de outros pássaros, foi uma inspiração para o compositor erudito Olivier Messiaen. Foi protagonista do
livro infantil O Armário do João de Barro, de Christina
Dias; deu seu nome a um projeto do governo brasileiro de
construção de casas populares no interior, especialmente no Nordeste; foi
tema de uma poesia de Cassiano Ricardo; é um motivo constante
na obra do pintorJosé Antônio da Silva e
foi cantado na conhecida toada caipira João de barro, de Teddy Vieira e Muibo
César Cury. A artista Celeida
Tostes utilizou seus ninhos para a criação de uma instalação
apresentada na Escola
de Artes Visuais do Parque Lage em 1990. Além disso a ave
já batizou uma plataforma criptográfica para a Autoridade Certificadora Raiz da Infra-estrutura de
Chaves Públicas do Brasil uma ONG, um
concurso nacional de literatura da prefeitura de Belo Horizonte.
Em Sobradinho corre uma lenda de que a
cidade foi fundada por um joão-de-barro, a quem ela também deve o nome, já que
antigamente um viajante teria ali encontrado uma dessas aves a construir seu
ninho, e ela, falando-lhe, disse que seria na forma de um
"sobradinho", em memória das grandes casas de fazenda que um dia
pontuavam a paisagem da região. Os indios avá guaraní assim explicam a origem do
joão-de-barro: a jovem Kuairúi havia se enamorado de Tiantiá, um valoroso
guerreiro. Queriam casar, mas o cacique Tabáire, pai de Kuairúi, não permitiu,
porque a despeito de sua bravura Tiantiá não sabia construir uma cabana. Assim
foram transformados em pássaros que ajudam um ao outro na construção do ninho.
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